sábado, 31 de março de 2012

Palestra com um assassino amador


Há no final desse túnel uma cachoeira e uma criança empurrando uma bola. Com esse calor você não consegue segurar o dedo no gatilho por muito tempo. A gente sempre sabe para quem apontar na hora H. Você então volta a ser um menino rolando uma bola sobre a água, só que agora a bola é o tambor do seu revólver.

A coisa é assim mesmo, as asas se abrem e começam a agitar tudo aqui dentro. Isso também agita as cortinas e deixa entrar a luz. Se você puder abrir um pouco a janela, fazer o ar circular é bom. As coisas costumam estar bastante empoeiradas nesta sala, e algumas mudam de lugar enquanto tudo está escuro.

Eu nunca matei alguém que eu quis. É uma ilusão achar que você pode ser o senhor da morte. É por isso que detesto quem mata profissionalmente. A morte é quem indica para quem você deve apontar a arma, mais ninguém, nem mesmo você terá o controle sobre isso. Quando se tem esse lugar para visitar, é muito difícil conseguir se manter afastado, ainda que algumas vezes pareça impossível alcançá-lo.

Apesar disso, você não pode desistir de tudo - só se consegue matar quando se está vivo. Então preste atenção no que está fazendo e não caia na tentação de odiar seus colegas e traçar planos de vingança. Eles não são os culpados pela nossa doença.

Você tem que estar disposto a encarar a viagem de maneira solitária. É isso que os caras chamam de lado negro, escuro, oculto, B. Tantas vozes dizendo a mesma coisa, isso chega a me irritar.

Há roupas espalhadas pela casa e um mata-moscas pendurado na parede. Sua cidade já ficou longe e o tempo em que tudo se resolvia com um mata-moscas ou uma ida até a lavanderia acabou. Não se esqueça: você é capaz de ouvir o chamado.

Ilustração: "The Main Driving Force", por Fabiano Gummo.

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