quinta-feira, 22 de março de 2012

O último post


Tudo pode ser uma rua lateral ou um canteiro central quando todos os espaços estão ocupados e tudo se repete em cada um deles. Todos os caminhos são o caminho do meio e isso inviabiliza qualquer tentativa de procurar um caminho do meio - de onde você está, siga.

Mas onde esse túnel vai dar? Depois que o ciclone envolveu a casa e elevou tudo, desde o chão até as telhas e o pátio, você ficou se perguntando onde tudo iria cair e se ainda seria possível juntar os cacos. É então hora de perceber que já não há mais elevar ou despencar, tudo é abismo e nós já perdemos muito tempo: é hora de sair surfando essas correntes de ar.

Sei que esse não é o fim, apesar de parecer assim - isso bate forte aqui dentro. Acredite em mim, não estou tentando confundir você. O papo é reto, o caminho é torto. Não fosse a doença, tudo seria simples. Houve um tempo em que eu temia que a palavra disseminasse meu mal. Não há mais com o que se preocupar: se você chegou até aqui é porque já foi contaminado.

O vento carrega uma voz hostil através dos tempos, alguém me diz virando o rosto. É nesse momento que alcanço a porta da casa e uma densa névoa começa a avançar até que não seja mais possível ver além de um palmo à frente dos olhos. Saímos caminhando uns atrás dos outros, não faz frio nem calor, o que incomoda é a claustrofobia da cegueira.

Seguimos juntos num turbilhão de corpos que parecem atraídos por algum princípio magnético. Até hoje não consegui decidir se foram meus olhos que se acostumaram à neblina ou se o véu de nuvens realmente deu trégua, o certo é que vi se formaram diante de mim os contornos de uma aldeia. Tudo ainda era muito branco, mas percebi estar em meio à multidão que acompanhava um casamento.

No altar, o oficiante traz alianças e decifro que aqueles corpos não estão vivos. Também os outros que me cercam têm o mesmo olhar congelado e o corpo abandonado a algum tipo de bruxaria amedrontadora e sobrenatural.

Começo a abrir caminho de maneira trôpega na direção contrária, mas não sou notado por ninguém ou força transcendental alguma. A neblina se dissipou por completo do outro lado da aldeia. Ali a terra acaba sobre um tremendo paredão rochoso. Não é possível ver o que há lá embaixo. Começo a descer e a escalada vai aos poucos me ensinando a conversar com as pedras.

Ilustração de Mariana Abasolo

Nenhum comentário:

Postar um comentário