quinta-feira, 31 de maio de 2012

Para que servem as utopias?

Para enlamear o presente. Sempre lembro do trecho de um livro quando alguém me fala de utopia. Hoje resolvi buscar na web para compartilhar:
"O queixar-se não serve em caso algum para algo: ele provém da fraqueza. o fato de se atribuir o seu sentir-se mal aos outros ou a si mesmo - o primeiro o faz socialista, o segundo, por exemplo, o cristão - não faz propriamente diferença alguma. O que há de comum, digamos mesmo o que há de indigno nisto, é que alguém deva ser culpado por se sofrer - em resumo, que o sofredor prescreva para si contra o seu sofrimento o mel da vingança. Os objetos desta necessidade de vingança enquanto os objetos de uma necessidade de prazer são causalidades ocasionais: o sofredor encontra por toda parte causas para refrescar a sua vingança - se ele é cristão, dito uma vez mais, então ele as encontra em si... O cristão e o anarquista - ambos são decadentes. Mas também quando o cristão condena, calunia, enlameia o "mundo", ele o faz a partir dos mesmos instintos, a partir dos quais o trabalhador socialista condena, calunia, enlameia a sociedade: o "juízo final" mesmo é ainda a mais doce consolação da vingança - a revolução, como a espera também o trabalhador socialista, apenas pensada um pouco mais distante... O próprio "além" - para que um além, se ele não fosse um meio de enlamear o aquém?"
Retirado de Crepúsculo dos Ídolos (ou como filosofar com o martelo) - Nietzsche.
 
E se tu for na aparelhagem, tu vai ver só o que ela vai aprontar.

Ilustração de Mariana Abasolo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário